quarta-feira, 16 de maio de 2012

R.G.

Você não é o que veste.  O número do manequim você não é

Você não é o alimento que come.  A caloria do rótulo você não é

Você não é o que dirige.  Enquanto estiver alienado você não é

Você não é o que pensam.  O que pensam por ti você não é

Você não é o que registram.  RG ou Extrato você não é

Você não é o que ouve.  O que te dizem você não é

Você não pode ser o que dança

Você não pode ser o que lançam

Você não pode ser o que tramam

Você é um absoluto nada

Se visto nem isso

Mas para o seu consolo

Você não está sozinho

quarta-feira, 9 de maio de 2012

OBITUÁRIO


O sonho se suicidou pulando no abismo onde dizem estar o corpo do amor

A ternura se imolou convencida de que encontraria a paz depois da dor

E a paz, pobre da paz. Precisa usar armas para se defender do horror


A esperança, combalida, definha no seu leito de morte esperando a morte

Dizem as más línguas que deprimiu-se de tanto esperar o seu rumo. Seu norte

No seu leito ajoelha-se a lembrança, cansada e esquecida dos dias de sorte


O sorriso, agora cúmplice do sarcasmo, fez refém o sentido

Códigos, signos, símbolos. Nada mais tem significado

Rimas,  poemas, declarações. Tudo não passa de estelionato


O tudo mais espicha-se rumo ao buraco negro feito pela humanidade

De agora adiante, o que não se desfez caminha para a iniqüidade

Não há volta, não tem como voltar atrás.
Se algo restou já já jaz.