terça-feira, 11 de dezembro de 2012

INTUIÇÃO, DEDUÇÃO E ORÁCULO: UM ESTUPRO DE CASO SOBRE O SETOR IMOBILIÁRIO


Uma coisa legal sobre a Economia é que, mesmo com tantos números ela faz parte das Ciências HUMANAS. Sim, Humanas.

O que a Economia faz, ou deveria fazer, é analisar o comportamento humano/econômico das massas/pessoas para prever e planejar o sistema de maneira a torná-lo SUSTENTÁVEL , RESPONSÁVEL e ÉTICO (piada pronta né).

Sendo assim, os números e índices econômicos sou eu e os meus conhecidos assim como você e os seus conhecidos. Nós somos os números dos gráficos econômicos assim como os nossos amigos, o pessoal do trabalho, a família etc. Então pergunto: das pessoas que eu conheço, quantas compraram imóvel ou estão atrás de um?
Resp:  03 compraram - todos endividados até o pescoço e tentando vender o perereco que comprou.

Esse é um dado de amostragem econômica mais do que o suficiente para mim. Não tem dado estatístico econômico mais revelador e confiável do que a minha própria vida e a dos que me cercam. Nós somos a economia. O resto é balela.


Outro fato que o dado EU revela sobre este setor é que o meu aluguel subiu mais do que a minha renda. A minha casa (em outra cidade e quitada faz tempo) não vale o que os corretores dizem que vale e ninguém dá nela o valor que esses morféticos dizem valer.

O gráfico EU não vê um número substancial de pessoas próximas comprando imóvel . Nem para morar. Nem para investir.
Para ser mais exato, só não afirmo categoricamente que não sei de ninguém que esteja atrás de comprar um imóvel porque eu conheço muita gente ... não é possível, deve haver alguém.


Mas para não ficar só no empirismo eu vou falar de mais economia de verdade e confiável. A  HUMANA.

Sendo a Economia a menos exata das Ciências Humanas, vamos falar então de um dos aspectos antropológicos, filosóficos e sociais mais importantes da sociedade HUMANA. Sociedade esta que deixou de migrar para se tornar sedentária reivindicando espaços, erguendo muros e dividindo-se em atividades especializadas, famílias e relações monogâmicas (piada pronta) separadas dentro desses espaços em lugares que chamamos de LAR. Desde os primórdios o LAR é o aspecto geográfico mais importante para uma pessoa antes da cidade, estado, país etc. Matamos e morremos por isso. Lutamos, progredimos e regredimos pelos nossos espaços.

Nos primórdios das civilizações, logo que deixamos a vida de coletores e fundamos as cidades, que é a reunião de lares humanos, um dos primeiros adventos foram os muros para evitarmos invasões e saques. Os conflitos naquela época eram baseados na procura dos recursos naturais que a cidade tinha. E dentro dessas cidades já havia a apropriação indébita das coisas alheias, e foi por isso que os chefes desses clãs/cidades instituíram as primeiras leis e punições.
Os primeiros exércitos foram criados exclusivamente para defender essas cidades (externa e internamente) que não passavam de um punhado de poucos lares cercados por um muro. Muitos destes menores do que os condomínios que temos hoje.

Dessa maneira  o rio, os metais preciosos, o clima e a manufatura dessas cidades antigas podem ser comparados com a economia (pib) das cidades modernas. Da mesma maneira, as guerras do passado podem ser comparadas com a procura (de imóvel) por uma região dos dias de hoje (conseguir o melhor lugar pelo MENOR custo).

Mas se antigamente matávamos e morríamos para fixarmos nossos lares perto de um bom rio, com um clima ameno e recursos naturais excelentes, porque hoje NOS SUICIDAMOS financeiramente absorvendo dívidas crescentes em lares situados em cidades cuja economia inegavelmente está murchando, com rios e ar poluídos, barulhentas e cujos habitantes estão matando a si próprios????? (Violência nas cidades modernas não é mais sinal de procura como nas antigas, mas sim de degeneração).

Em se tratando de lar - pois se o Setor Imobiliário vende imóvel o que as pessoas procuram é um lar -  as condições de vida do meu bairro e cidade (São Paulo) PIORARAM. Onde moro não tenho rios e ar puros, nem parques acessíveis. O trânsito piorou, o transporte público piorou, a violência piorou e o comércio da região parou no tempo - mas na inflação não. As ruas estão esburacadas, as calçadas uma porcaria - quando não tem buraco tem árvore no meio delas. Os semáforos de pedestres demoram uma eternidade para abrir (cada dia que passa a prefeitura atrasa mais o tempo deles) e não tem NENHUM radar para os automóveis, sendo ali uma avenida muito movimentada e perigosa.

Em consonância à construção de mais e mais condomínios, NENHUMA obra para melhorar o bairro foi feita.  Além de mais oferta de condomínios numa região estropiada que não suporta mais moradores do que já tem, não houve nem parece haver obras de melhoria e compensação para suportar mais gente.

Por conta dessas precariedades que impossibilitam o crescimento do número de pessoas na região, a associação de moradores está com uma ação judicial para EMBARGAR a construção de condomínios já em construção no bairro. Será que os corretores que ainda fazem seus plantões de venda falam sobre isso?

O valor do imóvel  da minha região sobe então baseado no que? Porque tanta gente quer me ter como vizinho jogando o valor do meu aluguel lá para cima?

Pergunto. Vamos supor hipoteticamente que você compre um carro. Aí você  bate, risca, funde o motor, cai num rio ... na hora de vender tem como o valor ser 04 vezes maior?
Se a economia é ciências HUMANAS, qual é a razão humana para pagar 04 vezes mais num imóvel situado num bairro 10 vezes pior para um ser HUMANO viver?

É tudo artificial. Eles (construtoras) fazem condomínios com piscina, área disso e daquilo para as pessoas esquecerem que VÃO TER QUE SAIR PELO PORTÃO E ENCARAR A CIDADE. MORAMOS EM CIDADES e não em subcidades chamadas de condomínios. A aceitação de viver em condomínios é aceitação de que a cidade morreu e de que não há mais possibilidade de se viver em sociedade.

Condomínios, ou subcidades, não corroboram para que as pessoas se agrupem em sociedades cujo espaço geográfico é denominado por Cidade. Os motivos que levam as pessoas a se agruparem em Cidades não podem ser os mesmos que levam a pessoas a se sub-agruparem em Condomínios. Aceitar ser normal viver em condomínio é aceitar a morte da cidade e da convivência social garantida (ou que deveria ser) pelo seu governo.

Cada condomínio murado dentro de uma cidade é uma pseudo subcidade que fermenta ainda mais os conflitos de uma cidade que MORRE. Segrega e MORRE.

Cada grupo de 1000 pessoas que compra um condomínio diz, silenciosamente.
“Ok, aqui fundo A MINHA cidade, já que compartilhar e conviver com as pessoas que vão ficar para fora desse muro não é mais possível. Meu filho num parque público. Impossível. Meu cachorro cagando numa calçada pública (vamos recolher pessoal), coitado do cú dele. Impossível. É impossível conviver. Desisto. Para lá desse portão são eles, os inimigos. Compro então meu mega carro-tanque e vou com força e violência, pois tudo é ameaça, tudo é perigo, tudo é inimigo.” (Consciência “condômina”).


Quanto ao governo, apoiar o crescimento vertiginoso de subcidades é assumir, também silenciosamente, sua incompetência de gerir este agrupamento de pessoas chamado de cidade. É admitir não poder dar para os cidadãos condições urbanas suficientes para todos de maneira a não precisar de conflito.

Um governo deveria garantir não ser preciso viver em movimento por outras montanhas, por outros rios etc atrás de melhores condições de vida. Coletando e brigando com outros nômades.  Neste espaço harmonioso chamado de cidade deveria haver o suficiente para todos, e é por isso que as pessoas se assentam nelas.

Na mesma proporção em que os condomínios vendem o que os governos deveriam garantir para todos (segurança, espaço publico de convivência, espaço verde etc) as pessoas aceitam o fim da sua cidade.

Cada alvará que o governo dá para alguém vender uma subcidade murada é assinar o seu atestado de incompetência.

Deixar mais um condomínio ser construído é assinar publicamente.
“Ok, não posso mesmo lhes dar isso – segurança, convivência, paz etc – Por isso eu aceito vocês se agrupando nesta sub-cidade. Fiquem com ela, briguem por ela. Se virem sozinhos pois eu, o governo, não dei conta de vocês.” (o que deveria estar escrito no alvará).

Esta é a cidade de São Paulo de hoje. Segregada e segregatória. Estética e violenta. Sem infraestrutura urbana para além das portarias dessas subcidades. Cheia de conflitos sociais silenciosos e mortais.


O governo assina publicamente a sua falência a cada novo alvará para se construir um novo condomínio. As pessoas pagam o governo e o condomínio para receberem a mesma coisa (mas o governo não dá). Para fora das portarias está tudo deteriorado, mesmo que esteticamente esteja biito (pelo menos sem gente feia pelas calçadas. E onde elas foram parar?, Quem se interessa?). Ainda assim, o oráculo de algum economista com seus números obtidos numa taboa de ouija ou de búzios disse.
“O imóvel de quem quiser morar aqui deve valer cada vez mais R$, mesmo que as suas vidas e condições de moradias valham menos R$ a cada dia que passa.” (Painomista imobiliário).

Mas Painomista, o senhor não pensa que ...

Minzifio pode subir sim. Se o oráculo disse, se a ouija disse e se você acreditar sobe. Mas se você não acreditar a culpa é sua que não acreditou o suficiente eh eh – ih ih”. (Painomista Imobiliário).



Então vamos cobrar mais e mais e mais. Se alguém questionar e apontar dados, damos uma parafraseada em Chico Buarque:
“[Se a ciência provar o contrário. Se o calendário nos contrariar. Se o destino insistir em desvalorizar ...
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas, os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos, sinopses, espelhos, conselhos. Que se dane o evangelho e todos os orixás. Serás investimento e irás valorizar.]” (Economia Imobiliária visitando Chico)














Para terminar, mais um pouquinho de Chico Buarque.








terça-feira, 16 de outubro de 2012

Um pouco de amor

Paixão é a bunda. Amor é o pum.
Paixão são os olhos. Amor é a remela.
Paixão são os beijos. Amor é o hálito.
Paixão é o novo hum que se desperta. Amor é o hábito.
Paixão é fazer. Amor é construir.
Paixão é desejar. Amor é descobrir.
Paixão é o fogo. Amor o socorro.
Paixão é a carne com aval a queimar. Amor é a alma a evoluir.
Paixão é se lambusar. Amor é alimentar.
Paixão é ter. Amor é ser.
Paixão dá pra explicar porque do querer. Amor é voce.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Abstrato

Que sentimento é esse?
Que sentimento eu sinto?
Como transpor ao mundo?
Como lhe dar um signo?

Como fazê—lo significar o que eu sinto?
E como te fazer entender sem ruído?
Que assim sendo é porque assim eu sinto.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

MENTIRA E CANJA DE GALINHA


(CASO NÃO ABRA O VÍDEO OUÇA AQUI)
verdade (Dicionário Michaelis online)
"ver.da.de
sf (lat veritate) 1 Aquilo que é ou existe iniludivelmente. 2Conformidade das coisas com o conceito que a mente forma delas. 3 Concepção clara de uma realidade. 4 Realidade, exatidão. 5 Sinceridade, boa-fé. 6 Princípio certo e verdadeiro; axioma. 7 Juízo ou proposição que não se pode negar racionalmente. 8 Conformidade do que se diz com o que se sente ou se pensa. 9 Máxima, sentença. 10 Cópia ou imitação fiel. 11 Representação fiel de alguma coisa existente na natureza. 12 Caráter próprio. Antôn (acepção 8): mentira."




Verdade. Nada aquém da verdade.
Para quem souber lê-la. 
Para quem suportar vê-la e entendê-la. 
Obstante dessas condições nos resta trilhar para além do  verídico, onde residem as adaptações dos roteiros escritos cujo o desfecho clichê desejamos redesenhar.

Há não verdade que encenamos verdade ser. Para uma platéia prender. Para entreter. A mentira.

Ser verdadeiro expondo razões para quem não está preparado(a) para sabê-la é usar a verdade como arma.

Esconder e refazer a verdade sem necessidade é patologia.

Mentir para si mesmo(a) ...

Você que clama pela verdade está preparado(a) para sabê-la?

Você está sendo sincero(a)?

Verdade?
...


Há bailes e há ritos carnavalescos onde há máscaras sobre faces verdadeiras que não precisamos saber.



Há carne e há aval. E felicidades encenadas reinando verdadeiras.



Há cenas e cenários. Roteiros de comédia, drama e romance.


Por onde atua você? Prometo não procurar saber sequer se é você.


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

EU SEI FAZER AMOR



"Eu sei fazer um lererê. Você não vai se arrepender ..."

"Eu quero tchu, eu quero tchá ..."

"Ai se eu te pego delícia, delícia ..."

"Vou te esperar na minha humilde residência pra gente fazer amor ..."

"Se eu te pego ãhn, se eu te beijo ãhn, se eu te pego ãhn ãhn ãhn ..."



É "tudo isso" mesmo?



De acordo com Vinicius, o poeta, diplomata e filósofo do amor, "o homem que diz dou não dá, porque quem dá mesmo não diz. O homem que diz vou não vai, porque quando foi já não quis. Homem que diz sou não é, quem é mesmo é não sou".






VINICIUS X LERERÊ: UMA BREVE ANÁLISE




Primeiramente, e também resumidamente, é preciso compreender que uma música é uma forma de expressão onde o sujeito transpõe a sua realidade. O sucesso dessa música significa em parte um bom trabalho de marketing das gravadoras, sempre tentando ganhar mais com menos (talento) mas, também, que essa realidade faz parte do cotidiano de outras pessoas.


Os ouvintes não são receptores passivos. Num mundo digital interativo, cada vez menos o consumidor final de cultura é passivo. Dessa maneira a música não deixa de ser moldada pelo seu público assim como o público não deixa de ser moldado por sua música numa velocidade incrível.


Pronto, passei a parte teórica. Nem doeu né? Por isso deixei bem superficial, senão ninguém iria ler.


Talvez por costume ou por falta do que fazer, eu não consegui ouvir as músicas acima e deixar de perceber alguns aspectos interessantes de serem ressaltados. Alguns destes até preocupantes.



Vamos aos fatos.



A obra de Vinícius, ao contrário do que muita gente pensa, não pode ser resumida como um punhado de poemas sobre o amor. Digo amor daquele açucarado de dar azia, daquele da vovó e do vovô. Se essa turma da música trepadeira atual acha que inventou alguma coisa nova saiba que, Vinícius sim inventou. Esse é o cara e guru maior do lererê. (Vou ficar no Brasil, pois vai virar pós se eu for puxar no texto os casamentos arranjados dos Celtas e as festas de Baco de Roma).


Resumindo Vinícius:

Casamentos? Vários.

Lererês? Vários.

Tesão? Sem limite.


Dizem que, quando ele terminava algum relacionamento, pegava a sua escova de dentes (e nada mais), colocava no bolso e viajava para casa de algum amigo em algum lugar. Chegando lá, tocava para levantar fundos e gastava tudo em cachaça. No fim da ressaca, estava superado o amor. Assim ele se desfazia de uma dor de cotovelos.


E o que Vinícius tinha de diferente da galera do lererê de hoje então? Aí a coisa fica interessante. Além da capacidade de fazer musica e poesia, no aspecto comportamental, o "tchã" da questão é a diferença na criação dessas gerações. Vamos analisar a atual.


Estamos no ápice da Geração Y e vendo chegar aos postos de trabalho a Geração Z. Definir grupos de pessoas por gerações é bastante polêmico, mas como esse texto não vai pra banca de nenhum mestrado, farei. Se eu não generalizar não termino isso nunca.


A Geração Y, que fixaremos neste texto como a galera nascida nos anos 80, é um pessoal criado pelos pais helicópteros. Foi essa geração que começou, gradativamente (ao passar dos anos foi piorando), a receber uma intervenção protecionista  pesada dos pais em todos os aspectos da vida. Neste ponto tem gente se coçando para dizer que não, pois hoje é pior ... então pare de se coçar e entenda que, se você pensa que a Geração Y não teve proteção, observe as conseqüências dessa "não proteção" e tente calcular onde vai parar a galera da Geração Z, que vive uma a proteção multiplicada por mil.


O resultado de tanta proteção é que as pessoas não aprendem sofrer decepções e, cada vez mais, os pais tomam de todos os meios para que o nível de decepção dos seus filhos seja 0. Estamos, na criação da Geração Y, no ápice da frustração 0, e isso já foi identificado como problema.


Não tem como você se relacionar amorosamente com alguém sem assumir o risco de se decepcionar. "São demais os perigos dessa vida pra quem tem paixão". E quem não suporta se decepcionar simplesmente se torna ansioso ao extremo. 


Hoje, doenças resultantes da ansiedade como estresse, depressão, pressão alta etc, cada vez mais atinge pessoas mais novas antes mesmo dessas temerem os "riscos do amor". Se antes o psicólogo de uma escola atendia  meninas preocupadas de estarem grávidas, agora atende uma estressadíssima geração tentando não    se decepcionar, nem os pais, no vestibular, curso de inglês, espanhol, informática e isso, aquilo e conteúdo, conteúdo.


Os pais perderam o rumo da evolução humana dos seus filhos em detrimento de uma formação conteudista. A escola se tornou o lugar onde são ensinados os conteúdos/matérias, deixando de ser um processo de desenvolvimento psicológico e humano do ser.


Além das escolas, as crianças também fazem cursos e atividades diversas, todas conteudistas.

O que os pais não percebem é que, o fato da criança gostar e se divertir com uma atividade não significa que esta o desenvolve em todos os aspectos.

Por exemplo, o seu filho pode fazer natação, aula de piano etc e gostar de tudo, mas estas atividades são monitoradas. A independência só é trabalhada com atividades "não tão" monitoradas que, no caso da criança, é uma atividade muito simples. Brincar. Se divertir em atividades monitoradas (por não educadores) não é brincar. O espaço de brincar é onde a criança cria as suas regras e, vezes ou outra briga, se machuca e erra. Estas decepções são inadmissíveis para os Pais Helicópteros da Geração Y e heresia total para os pais Porta-Avião da Geração Z.


Ou seja, as atividades que fazem o sujeito se tornar independente estão sendo proibidas pelo risco do filho(a) voltar com uma marca de mordida do amigo(a) do play, e esta superproteção elimina a capacidade do sujeito de lidar com experiências decepcionantes.


Vítima de uma criação que não lhe ensinou a se frustrar, só resta para a Geração Y sofrer por medo de sofrer de amor.


O lererê nada mais é do que uma geração de homens esfregando o pinto pelos muros e de mulheres batendo com as periquitas nas mesas para passar o tesão mas, que ao mesmo tempo, correm de relacionamentos já que estes trazem decepções.


O que estes precisam perceber é que sexo não é ruim. Mas é o suficiente?


Agora entramos num terreno arenoso. AMOR. Da neurociência a antropologia, da filosofia a poesia, está aí um assunto complicado. O AMOR.


Vamos para os fatos mais científicos. Já é sabido que no jogo de atração existem aspectos como cheiro (feromônios) que vão desde a disponibilidade sexual (reprodutiva) até a combinação do sistema imunológico. Já é aceito que, assim como os animais, procuramos (nosso eu primitivo) parceiros fortes, e isso num mundo racional, pendeu para quem consegue fazer dinheiro, ou seja, o forte é o velho barrigudo, o nerd etc.

Sendo o dinheiro criado a partir de dívidas e estando todos os modelos econômicos falidos, torna-se cada vez mais difícil viver independente dos pais sem a companhia de alguém para dividir as dívidas. Junte o útil ao agradável e casar, juntar etc, bem mais do que uma questão de AMOR açucarado, é um grande negócio. Agregar negócio ao amor tira o seu brilho, mas é questão de sobrevivência elementar. Casal inteligente cresce junto.


Uma geração que aos 30 anos ainda mora e depende dos seus pais não percebe que um dia eles vão ficar órfãos. E aí, o que vai ser? Com quem vai ser esse negócio chamado compromisso?


Uma coisa é fato, um sujeito afoito ao risco de sofrer decepção vai ter problemas com experiências que lhe force se conectar com sentimentos primitivos que ele não é capaz de compreender e controlar. Mas isso não significa que estes sentimentos não estão ali dentro atormentando.


Não havendo a superação disso , dá-lhe lererê.


Hoje, tal como para crianças de 05 anos, dizer que está namorando é ofensa para estes homens e mulheres de 24, 26 a 36 anos. Agora é o lererê. Mas, embora livres para amar e do compromisso, estes sentem ciúmes ao ver o(a) não namorado(a) com outro(a). E sofrem.


O homem, na sua natureza de possuir, pega todas, mas se incomoda por não ter nenhuma. E a mulher, um ser cujo prazer sexual pleno precisa de estimulação psicológica, goza nos primeiros lererês e, depois, começa a sentir falta de algo.


Ambos trepam, trepam e trepam, se é que trepam mas, ainda assim, sentem falta de alguma coisa.


Seria de uma fantasia nova? De mudar de motel? Que tal transar na balada?


Pois é, para apimentar mesmo, de verdade, falta correr um risco maior do que transar na praça ou no trem. Do que passar um final de semana cheio de sexo na praia. Falta correr um risco maior do que pegar AIDS, engravidar ou DSTs. E esse risco é cobrado pelo seu corpo e pelos seus aspectos mais primitivos. O que falta mesmo para este lererê ficar gostoso de verdade, com orgasmos múltiplos, gemidos para a vizinhança inteira reclamar e terremoto sísmico de 7.0 na escala Richter é arriscar fazê-lo com AMOR.


Aí está a lição que esta geração pode aprender com Vinícus. Ele que andou "por céus e mares [...] na esperança de entender o que é o amor" descobriu que, "o amor é o carinho, é o espinho que não se vê em cada flor. É a vida quando chega sangrando em pétalas de amor".


Amor, todavia, não significa a obrigação de exclusividade de uma vida inteira. Experimentar pessoas diferentes é sim válido. Mas que haja compromisso. E compromisso não é necessariamente a designação social de namoro, noivado ou casamento, mas sim a consciência de que há humanidade no outro. É tentar fazê-lo(a) superar pelo menos um obstáculo na vida e crescer, mesmo que isso seja feito em uma união de duas semanas, pois não precisa "ser imortal posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure".


E o certo seria amar quantos(as)? Não há conta, só há entrega. "Ser de [muitos(as)] não tem nenhum valor". Mulheres por exemplo "vivem num mundo lírico e distante". Por isso nós homens, quando apenas as tratamos como objeto, "sequer alcançamos suas almas".


O sexo com uma mulher bem amada é mais intenso e gostoso do que com 10 mulheres mal amadas e apenas catadas pelas baladas. Mas para fazer com Amor "é preciso muita concentração e muito siso [e] fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada".  Beijar 10 mulheres por noite e comer uma por fim de semana faz do sujeito um grande catador, mas nunca um grande amante. "[Coloque] um pouco de amor na sua vida, como no seu samba", e veja quão melhor será o sexo que você vai fazer e oferecer.


E os homens? São objetos também? Moço pra mostrar pra mamãe, moço pra mostrar pras amigas, moço pra mostrar a calçinha e, se ocorrer de todos irem na mesma balada. Briga. Então pra que isso? "Você que só faz usufruir, e tem [homem] pra usar ou pra exibir. Você vai ver um dia em que toca você foi bulir".


Vamos amar pessoal. E não tentem entender o que é amor, só se entreguem à humanidade inerente naquele(a) que está contigo. Ouça. Fale. Desabafe e nunca tenha medo de errar. Erre.


Trazendo Milton Nascimento para o assunto. Isso também vale para os meninos com meninos e meninas com meninas porque, quando o assunto é amor, "Toda a forma de amor vale a pena. Toda forma de amor valerá".


E o que mais poderíamos falar sobre o amor? Que tal tratá-lo de uma maneira mais ampla do que o sentimento inexplicável que junta, amorosamente, um ao outro.


Olhemos por exemplo a nossa bandeira. Existem duas palavras nela. O que muitos não sabem ou não param para pensar é que, a nossa bandeira é uma das raras no mundo que possui palavras nela. E de onde elas vieram?


"O Amor por princípio e a Ordem por base. O Progresso por fim" – esse é o lema Positivista que inspirou a nossa República e a nossa bandeira. Mas porque Amor?


Pois é. Amor é a centelha pela qual nos organizarmos e nos agrupamos. Amor é bem mais do que apenas o desconhecido sentimento que atrai amorosamente uma pessoa a outra.


Como falta às gerações Y e Z isso. Amor.


Numa onda digital de globalização de tudo, as pessoas cada vez mais se conectam, mas não se "agrupam". Curiosamente, muitos movimentos e intervenções são realizados desse não agrupamento, mas aí é outra questão. O fato é que, o Brasil achou ser de sobra o Amor, o tirou da bandeira e das políticas públicas e por isso sofre, como conseqüência, de falta de unidade e de objetivos ("algum amor por alcançar"). Quando falta unidade as pessoas não se agrupam e não se organizam. Até o amado futebol nacional está em declínio. Que triste.


Usando agora de João Bosco, devemos entender que "amar um rádio de pilha, um fogão jacaré, o bar" une "pais de santos, paus de araras [...] passistas".


Mas enquanto os agrupamentos geográficos tradicionais estão se reorganizando pela força da rede e, no Brasil Positivista deteriora-se ainda mais por falta de Amor, no imenso país existente dentro de cada pessoa também faltam causas para se amar.


Você ama o que? Futebol? Família? Viajar?


O que você faz além das obrigações? E você faz por que? Porque ama ou porque é o que resta para fazer?Quanto você é capaz de se esforçar pelo você que ama?


O que te move? Você ama?


Como deu para perceber, amor é algo muito mais amplo e, para um país de Constituição Positivista deveria ser item obrigatório e primordial.


Vinícius de Morais, por ter ousado a filosofar sobre o amor com poesia, nunca poderá ser resumido como um simples poeta beberrão. Não, ele foi muito além disso.


Quanto a mim, sendo eu um produto da Geração Y, sofro por que vivo no meio de pessoas sem AMOR.


O que tenho para dizer de mais honesto é que "eu francamente já não quero nem saber de quem não vai porque tem medo de sofrer. 


Quem nunca sofreu uma paixão, nunca vai ter nada não."Eu tenho dó de "quem não rasga o coração. Esse não vai ter perdão".


Daqui por diante, eu quero mais é saber de fazer por amor. Amar amigos, minha vida e minhas coisas. EU QUERO AMAR.


Quanto ao meu lererê. Se você quiser amar você vai ter. Por um dia, final de semana ou pro resto da vida, eu só vou com quem quiser fazer algo diferente e com intensidade. AMAR.


Não te darei lererê, mas sim AMOR.


Você que tanto precisa amar já soube o prazer que dá ser AMADA com AMOR? Quer sair da rotina e gozar nas estrelas? Largue essa porra de lererê e vamos fazer AMOR. Você nunca mais vai SE esquecer.


Finalizo deixando uma musica que também não é de Vinícius, mas que contextualiza o amor de uma maneira mais ampla. Realmente essa musica, se levada a cabo, faz pensar.



POR QUEM MERECE AMOR






Além dessa música, uma poesia minha.



AMOR DE JUÍZO FINAL

Eu sonho fazer uma linda poesia

Daquelas com regras métricas inimagináveis
para falar de sentimentos imensuráveis

E dessa poesia saber fazer uma canção
que reinvente o sentido e crie um novo som
para virar hino de toda uma geração

Que o meu teclado fosse mágico,
e de escabum encontrasse no dicionário
as palavras certas para cantar o amor

e todas outras coisas difíceis de explicar
Da economia em crise e terra a esquentar
Do Bóson de Higgs em Deus tocar

E do tecido do espaço-tempo a se abrir
E do universo que se vai por expandir
E do mundo todo prestes a se extinguir

E no meio desse som de tanto lamento
explicar como eu posso ainda ter tempo
de querer você do meu lado nesse momento

De mãos dadas seguindo em frente
sobre os escombros da humanidade,
e sobre os horrores da iniquidade

Se não é mais desumano
a humanidade se extinguir
no seu forte humano

Eu quero estar com você na hora do mundo ouvir
a última canção capaz de fazer Deus refletir
Vamos provar a inocência de quem viveu sem nada sentir
O nosso amor no Juízo Final
é sem juízo afinal
é amor




sexta-feira, 6 de julho de 2012

THE ROLLING STONES - COM A SUA LICENÇA POÉTICA, PARTO

Nesta sexta estou embarcando. Literalmente. E cheguei no que me parece ser 100 anos atrás.

Você já refletiu sobre coisas do seu passado? Momentos, experiências, atitudes. E já chegou sentir que muitas delas são de 100 anos atrás? As viu como se fossem parte da história de outra pessoa ou de uma encarnação totalmente diferente?


Meus “amigos”, os que vejo pouco, dizem que eu não mudei nada. Muitos indagam se eu ainda estou vivo, empregado, ou dentro de uma cracolândia qualquer, moribundo e quase morto.

Você não consegue ver rugas na minha testa? E se não mudei, você não acha que as vezes é inteligente a gente não crescer? Enquanto esses amigos vivem um sonho do que eles eram ...

Eu mudei, estou com os ossos cansados, mas não desanimados. E posso estar melancólico, mas não triste. Isto são coisas que a vida ensina, e que só aprendemos a domar quando aceitamos o envelhecimento.

Mas envelhecer é o correr de um segundo a mais ou de um segundo a menos? Mais tempo para descansar ou menos tempo para perder?

Se de um lado faz parte da natureza do tempo passar, do outro faz parte do que somos tê-lo vivido.

O tempo passa, mas não parte.